segunda-feira, 8 de junho de 2009

Construção de usinas deixa apreensiva população ribeirinha em Rondônia

Brasília - As populações que vivem às margens do Rio Madeira estão apreensivas com a possibilidade da construção de duas usinas hidrelétricas em Rondônia. Seu Zé Riqueta, cujo nome de batismo é José Alves Pereira, é agricultor e planta num sítio de 151 hectares junto ao rio.
Ele pesca para o consumo da família e cria carneiros. A renda com a venda dos animais e da produção de feijão, milho, melão, melancia, batata doce e açaí é suficiente para sustentar ele, a mulher, o filho e a filha casada, que já lhe deu dois netos.
Seu Zé Riqueta diz que participou de uma das audiências públicas promovidas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), mas que não teve oportunidade de se pronunciar. Por isso, ele ainda tem muitas dúvidas, não sabe se, com o alagamento do seu sítio, vai ser transferido para um lugar onde poderá continuar plantando.
“Eu me sinto ameaçado. Aquilo que fiz, que poderia servir para meus filhos e netos, vai ser alagado. Mas o que mais tenho medo é do que vai ser dos mais velhos. Eu tenho vizinhos de até 88 anos de idade. Ninguém recomeça nessa idade, porque já gastou todas as forças. Ele chegou aqui novo, hoje tá (sic) velho e fez tudo o que fez na vida para ter um sossego e agora vai ser preciso sair”.
Cearense, o agricultor chegou em Rondônia há 35 anos e hoje, aos 67, se orgulha da plantação que cultiva na praia que se forma quando é época de seca. “É um terreno fértil a várzea, que não precisa de adubo pra plantar”, conta.
O servidor público Luiz Luz Máximo também mora na beira do rio, acima da cachoeira de Santo Antônio, assim como seu Zé Riqueta, e não tem medo só de ter que sair do seu lugar.
“A nossa cidade não suporta esse tanto de gente que vai vir pra cá para construir as usinas e que depois vai ficar desempregada. Até a terra em Porto Velho e em outras cidades está mais cara, o povo ta especulando. Tem aqui valendo ouro”, relata.
A integrante do Instituto Rio Madeira Vivo, Estefânia Monteiro, que convive com as populações ribeirinhas em função de seu trabalho, confirma que o medo e a dúvida tomam conta de todos que podem ser atingidos pela barragem do rio Madeira.
“Alguns são posseiros e não têm o título da terra. Nem sabem se vão ser removidos. Mas a maioria tem medo mesmo é da mudança que vai acontecer em suas vidas. Só pra se ter uma idéia, tem uma ilha no meio do rio, onde foram produzidas mais de cinco mil melancias no ano passado.

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